Durante três anos, a biodiversidade subterrânea da Gruta do Vale Telheiro, no território do aspirante Geoparque Algarvensis, vai ser estudada por cientistas, tornando-se a primeira “Investigação Ecológica de Longo Prazo - (LTER)” em grutas da Europa Ocidental.
A conservação, monitorização e restauro ecológico deste hotspot da biodiversidade cavernícola de classe mundial é o principal desígnio da equipa de investigadores, liderada pela Professora Doutora Ana Sofia Reboleira, investigadora responsável pelo projeto e parte integrante do Conselho Científico do Aspirante Geoparque Algarvensis.
Foi celebrado um protocolo entre a Câmara Municipal de Loulé e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que proporcionará as condições para desenvolver este projeto mas, também, criar uma proposta de enquadramento jurídico para proteção deste habitat e das espécies que aqui se encontram. A investigadora identificou o lado mais pragmático da importância destes seres: “São estes organismos que garantem a qualidade da água, um fator bastante limitante no território do Algarve”, frisou a coordenadora do Barrocal-Cave.
Uma dessas espécies e que serve de bandeira ao projeto é o “pseudo” escorpião gigante, um aracnídeo considerado “uma das 100 espécies mais espetaculares do nosso Planeta” e um dos “fósseis vivos”, contemporâneo da salamandra Metopossaurus algarvensis, que já estava no território antes dos continentes se separarem, há 170 milhões de anos. Este é um dos organismos fundamentais para o normal funcionamento deste ecossistema, que “contribuem para estes ciclos biogeoquímicos, de nutrientes, de carbono, de matéria orgânica e, sobretudo, de purificação das reservas de água que temos debaixo de terra”, explicou Ana Sofia Reboleira.
Hotspot de biodiversidade subterrânea a nível mundial, com mais de 20 espécies cavernícolas
A equipa de investigadores espera alcançar a caracterização ambiental e ecológica da Gruta, e implementar uma estação de monitorização de longo tempo, para aceder de forma remota ao interior da cavidade, e fazer a avaliação das necessidades de restauro ecológico para manter o ecossistema em funcionamento.
Refira-se que este projeto é financiado pela 2ª edição do Prémio Belmiro de Azevedo, da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
A equipa do aspirante Geoparque Algarvensis também faz parte da equipa do projeto e esteve presente na reunião, com a sua coordenadora executiva, Elizabeth Silva, o Coordenadora Cientifica Cristina Veiga Pires, o geólogo Gonçalo Maurício e o paleontólogo Hugo Campos, uma vez que este é um dos sítios da biodiversidade fundamentais na candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO sendo uma das bases do trabalho do Geoparque a Ciência.
Além da Câmara Municipal de Loulé e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e seu Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais desta Faculdade, o projeto conta ainda com o apoio da Universidade do Algarve e do Centro de Ciência Viva do Algarve onde haverá uma exposição final com os resultados deste trabalho.
De referir que serão integrados vários colaboradores e alunos em toda esta rede de investigação que se vai criar à volta do projeto.