(a concluir até Maio de 2021)
Tendo em conta o processo de inventariação dos geossítios no território do Geoparque Loulé-Silves-Albufeira, foram identificados na Freguesia de Paderne vários pontos de interesse geológico ao longo dos percursos pedestres aí já instalados, nomeadamente, no PR1 – Rota do Castelo, PR2 – Percurso do Cerro de São Vicente, e PR3 - Percurso do Cerro Grande, e dada a sua importância no contexto do Geoparque, foi considerado oportuno e valorativo a colocação de painéis informativos nos respetivos locais que permitam uma melhor interpretação dos valores geológicos e paisagísticos aí presentes. Paralelamente também foram identificados outros valores geológicos, que não estando integrados nos percursos pedestres referidos, mereceram também o devido estudo, encontrando-se assim incluídos neste projeto de interpretação de pontos de interesse geológicos, num total de 11 geossítios, nomeadamente:
- Vértice Geodésico do Cerro do Ouro
O Cerro do Ouro é um anticlinal assimétrico, com o flanco mais inclinado virado a norte. Com o vértice geodésico a 144 m de cota, dele diverge uma rede de drenagem centrífuga, sendo as linhas de água afluentes da Ribeira de Algoz. É justamente para norte que se tem uma vista privilegiada da bacia cretácica (margas brandas), depressionada em relação aos calcários do Escarpão mecanicamente mais resistentes, que constituem o Cerro do Ouro. Na base deste, contactam por falha os Espongolítos de Mem Moniz.
- Espongolítos de Mem Moniz
Os Espongolítos de Mem Moniz constituem um enclave do Miocénico Superior no seio de terrenos mais antigos. É, a todos os níveis, uma Formação particular, quer litológica quer geneticamente. São siltes argilosos amarelos, muito ricos em microfauna e em espículas de espongiários e desconhecem-se outras formações semelhantes em Portugal. Contem uma diversificada associação microfossilífera. Foram depositados quando a linha de costa se localizava a cerca de 10 km de Albufeira para o interior.
- Lagoa da FACEAL
Evidência da exploração de argila pela FACEAL - Fábrica de Cerâmica do Algarve S.A. O complexo fabril FACEAL onde era explorada argila para cerâmica de faiança e de grés, está agora a ser recuperado para ser um novo Centro de Formação “4 Sea – International Academy” que se propõe aproximar a formação profissional das reais necessidades da Economia do Mar.
As antigas frentes de exploração da lagoa da FACEAL constituem o melhor local para observar os sedimentos do Cretácico da faixa entre Paderne e Tunes, que está em contacto direto com a falha do Algibre. A sucessão exposta, oferece uma bela paleta de cores de camadas de argilas esverdeadas, cinzentas e vermelhas, sobrepostas por camadas de arenitos grosseiros e conglomerados. As argilas foram depositadas em lagoas do período geológico Cretácico.
- Cerro de São Vicente
No seu topo existe um moinho de vento, presentemente em ruínas. Eleva-se à cota de 177 metros, sobranceiro à paisagem das várzeas aluvionares das ribeiras de Alte, Algibre e Quarteira. Assim, é possível ter uma vista deslumbrante sobre a bacia hidrográfica das ribeiras mais influentes nesta região do barrocal algarvio. Ao longe, os relevos de dureza como a Rocha da Pena e a escarpa do Acidente de S. Marcos, conferem a este local uma oportunidade de interpretar de um modo integrado a paisagem e o ordenamento biofísico.
- Monchina
A colina de Monchina é um enclave na Formação de Picavessa, a sul da flexura do Algibre, talhada nos Calcários e Margas do Telheiro do Caloviano (Jurássico Médio) e deve o seu relevo conspícuo na paisagem ao jogo da falha de Quarteira com uma outra que a cruza quase ortogonalmente, de direção NE-SW. O seu cume encontra-se a 120 m, do qual se observa para Este a zona aluvionar de Alte-Algibre e a confluência entre as ribeiras. Morfologicamente é evidente o alinhamento da flexura de Algibre, o relevo em mesa do barrocal e a diferenças entre este e o relevo da Serra.
Existe uma abrupta passagem da colina de Monchina para a Várzea de Paderne o que permite a observação desta fantástica paisagem.
- Fonte de Paderne
A fonte de Paderne, remonta ao século XVII e tem sido, ao longo do tempo, de extrema importância para o abastecimento da população de Paderne e arredores. Este facto, está bem expresso nas várias estruturas de utilização comunitária, como o lavadouro público ainda utilizado pela população. É o único local de descarga natural do Aquífero Querença- Silves no Concelho de Albufeira.
- Castelo de Paderne
Um dos castelos 7 castelo representados na Bandeira Portuguesa, destaca-se pelos seus tons avermelhados. A construção do castelo deu-se entre o fim do século XI e o início do século XII (Período Almóada).
Do topo do Castelo de Paderne pode-se observar o meandro mais acentuado da Ribeira de Quarteira, que aqui acompanha a Falha de São Marcos – Quarteira, e nas encostas do mesmo, várias bancadas calcárias do Escarpão - Jurássico Superior.
- Moinho do Leitão
O Moinho do Leitão, localizado no cume de um cerro que se eleva a 154 m, está exposto a bom vento para a moagem e tem o mar como panorama a sul e a serra algarvia a Norte. Morfologicamente, é um inselberg. Isto é, uma elevação que é conspícua relativamente aos terrenos circundantes. Este facto deve-se à movimentação de um jogo de falhas.
O próprio moinho, contém valor intrínseco. É um moinho de vento construído em pedra, areia e cal. A data da sua construção não é precisa, mas é referenciado como um dos mais antigos da freguesia de Paderne, onde os cereais e os frutos secos eram fonte de riqueza. Assim, a utilização dos cereais no moinho de vento era muito importante para a população local uma vez que não existiam outras formas mais fáceis de moagem.
- Cerro do Malhão
O Cerro do Malhão eleva-se a 195 m de cota e no seu flanco norte observa-se o contacto entre os Arenitos e Conglomerados do Cotovio e a Formação de Peral. Faz parte do alinhamento de relevo tectónico de direção NW-SE, na margem esquerda da Ribeira de Quarteira. Nele existem dois moinhos e a vista para sul abrange o Planalto do Escarpão, relevo moldado pelas ribeiras e o Oceano Atlântico no horizonte.
- Cerro Grande
O Cerro Grande tem o seu cume a uma cota de 227 m e permite a observação da paisagem em 360°. A partir dele, observa-se muito bem o controlo morfológico do Acidente de São Marcos, a utilização do solo com vários pomares de sequeiro, os muros de pedra solta característicos do barrocal, resultantes da desprega, o relevo característico do barrocal e da serra. Para sul, observa-se a passagem para o litoral e o oceano atlântico no horizonte.
- Charcos Temporários
Os Charcos Temporários Mediterrânicos são considerados como habitat prioritário 3170 (diretivas habitats (92/43/CEE). Estes charcos são importantes na interação entre outros habitats de água doce e a diversidade biológica é muito elevada podendo ser superior à existente em cursos de água e lagoas permanentes.
Os Charcos Temporários são depressões pouco profundas com períodos secos e húmidos intercalados normalmente associados a uma camada de solo menos permeável que a circundante assim favorecendo a retenção da água no local. No entanto, como pode ser o caso dos charcos de Albufeira, podem ser formados devido à subida do nível freático assim prolongando o período húmido dos charcos, podendo alguns estar com água ainda no início do verão. Assim, têm um hidroperíodo superior àquele que corresponderia à simples acumulação de água da chuva em depressões impermeáveis no terreno.
São zonas importantes para a alimentação e reprodução de várias espécies de aves, anfíbios e invertebrados.